A Trilha de fuscas foi um projeto iniciado em 2007 e consistia, a princípio, em aplicar imagens por meio de estêncil ou lambe lambes de carros em miniatura, em pontos de parada de trânsito como: semáforos, cruzamentos, muros e postes de sinalização. Após a constatação de que a cidade de Guarulhos passava por um problema similar ao da capital de São Paulo, e ainda, tomando como ponto de partida o efeito de Mexicanização do trânsito, assunto muito discutido naquele momento, a intervenção visava problematizar o crescimento sem planejamento que ocorria na cidade, que sofria naquele instante com um trânsito cada vez mais congestionado, sem vazão, acarretando em mais problemas, como poluição, acidentes, mortes, piora da saúde e toda a cadeia de fatos relacionados, como já sabemos. A partir disto, a Trilha de Fuscas passou a despertar o interesse dos munícipes, por conta de seu caráter lúdico, bem humorado, e resolvemos então transformá-la de alguma maneira em um “brinquedo”, conferindo-lhe um “corpo” tridimensional. O trabalho ganhou novo fôlego e passaram a tomar as ruas, praças, qualquer local que pudesse de alguma maneira provocar situações de embate inevitável entre o transeunte, o motorista e o objeto. A mobilidade urbana e outros aspectos discutidos em uma agenda para o Século XXI passaram a ser uma das tônicas de nosso trabalho. Outro aspecto que despertou o interesse da população foi o fator surpresa e a multiplicidade de carrinhos que tomavam conta dos lugares. Em geral, fazíamos intervenções com 100, 200 carrinhos em um único local, espalhados em fila, como no trânsito verdadeiro, dificilmente não eram percebidos pelas pessoas nos locais em que eram colocados. A profusão de carrinhos era, naquele instante, uma forma de alinhavar a ideia de produção da cidade e sua vocação para ser um dos maiores PIBS do Brasil, para a ideia de pequenez, miniatura, ou seja, um contraponto entre o grande, a ideia megalomaníaca que se tem de progresso e desenvolvimento, mas que trás consigo o preço alto da péssima qualidade de vida e a fragmentação das comunidades. Cabe ainda hoje a pergunta sobre qual seria mesmo o progresso tão enfatizado pelo poder público local. A que e a quem ele realmente interessa e serve?
De certa forma, o projeto reaparece agora, no Contracondutas, em que começamos uma pesquisa e reproduzimos os “carrinhos de mão” dos pedreiros, em uma espécie de analogia entre o objeto do trabalho, ferramenta do trabalhador, também multiplicado à exaustão, como no caso dos carrinhos, mas, que comporta em si mesmo, uma realidade ainda pior. O carrinho de mão contará com um QR CODE, que será acessado por quem se apropriar dele, levando o fruidor para um universo de depoimentos de moradores da cidade, em especial, localizados próximos aos bairros do entorno do Aeroporto Internacional.