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13.09.2017

Trabalhos de Extensão da UNIFESP vinculadas ao Projeto Contracondutas

Um encontro profícuo: A participação da UNIFESP no Projeto Contracondutas

O presente trabalho tem por objetivo apresentar a participação da UNIFESP no Projeto Contracondutas: pesquisa sobre trabalho e migração na construção civil, realizada através da Unidade Curricular Laboratório de Pesquisa e Práticas em História da Arte III do curso de Graduação em História da Arte do Campus Guarulhos da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Esta disciplina cumpre um papel estratégico no Projeto Pedagógico do curso, conjuntamente com os outros laboratórios que têm como objetivo principal aproximar o aluno das diversas manifestações artísticas e visuais, com as quais deverá lidar no decorrer da vida profissional e acadêmica. O módulo III especificamente, sob coordenação dos professores Vinicius P. Spricigo e Pedro Fiori Arantes, privilegia os processos de curadoria e mediação e devido ao seu caráter extensionista, a disciplina realizada no segundo semestre de 2016 buscou uma aproximação entre o exercício crítico das práticas curatoriais realizadas em sala de aula com as atividades de pesquisa e extensão vinculadas ao projeto.

O projeto Contracondutas, nasce como uma resposta a um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), aplicada por uma decisão do Ministério Público do Trabalho de Guarulhos a uma construtora brasileira flagrada com trabalho análogo à escravidão na expansão do Aeroporto Internacional de Guarulhos. Parte dos recursos, advindo da multa paga pela construtora foi destinada à Associação Escola da Cidade. O objetivo foi a realização de um projeto que problematizasse e promovesse o debate público referente ao impacto das grandes obras de infraestrutura, à migração e ao trabalho análogo a escravo, fomentando o debate sobre o reconhecimento dos direitos do trabalhador.

Mediante convite de colaboração da Escola da Cidade, ocorreu contribuição significativa para a formação de competências e experiências dos alunos da UNIFESP envolvidos no projeto. Tratou-se de uma oportunidade singular, que possibilitou aos alunos estarem diante de uma experiência de um processo de curadoria e mediação em tempo real.

A participação da UNIFESP foi realizada em dois âmbitos: aulas teóricas e encontros práticos com os envolvidos no projeto Contracondutas, nestes se promoveram discussões, debates, sugestões e hipóteses, além de fóruns públicos para acompanhamento das seis intervenções públicas desenvolvida por artistas, coletivos e intelectuais, com principal foco na persistência do Trabalho escravo no Brasil e seus reflexos no âmbito da cultura com especial ênfase nas questões que envolvem a comunidade de Guarulhos (moradores e trabalhadores dos territórios impactados pelas obras de expansão do Aeroporto), que foram e estão sendo realizadas como uma forma de promoção e visibilidade através das correlações mais amplas entre aeroporto, arquitetura, trabalho, infraestrutura, precarização, exploração, identidade, controle e fluxos, domesticação dos corpos, relação público e privado. Questões estas presentes nas diferentes intervenções, com clara contribuição multipluralista das linguagens artísticas e dos diferentes contextos que cada proposta foi elaborada dentro desta narrativa que os atravessa.

O Campus Guarulhos da UNIFESP foi criado em 2007 como Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (EFLCH), decorrente da expansão das Universidades Federais (Reuni), e o Curso de Graduação em História da Arte, por sua vez, foi inaugurado em 2009. O projeto pedagógico acadêmico propõe a integração entre as áreas de conhecimento das Ciências Humanas e intenciona formar cidadãos aptos a atuar de forma crítica e propositiva. Apesar de se destacar pela qualidade de ensino e pela produção acadêmica, o Campus Guarulhos trabalha para consolidar seu caráter extensionista, pois ainda não possui plena integração da comunidade com a universidade. Localizada no Bairro dos Pimentas na periferia de Guarulhos, cumpre a função de ser mais que um espaço de produções gestadas na interface dos diferentes saberes, a universidade almeja cumprir uma função social de produção e difusão do conhecimento, buscando contribuir para a construção de uma sociedade democrática e menos desigual. É essa a principal intenção desse projeto de extensão acadêmica, através de ações que promovam o reconhecimento da UNIFESP junto à cidade.

Neste sentido, visando contribuir para a integração da universidade com a Cidade de Guarulhos, foi desenvolvida em parceria com a Escola da Cidade no âmbito do projeto Contracondutas a construção de um dispositivo expositivo móvel, junto ao artista e professor da Escola da Cidade, Vitor César. A proposta foi recebida pelos alunos da UNIFESP com grande entusiasmo, pois era uma oportunidade não só para auxiliar na exposição do projeto, mas principalmente para auxiliar a própria universidade nestas práticas extensionistas de ações junto à cidade. Desta forma, esse dispositivo foi desde o início entendido como uma base itinerante que ao responder a algumas das demandas e questões do projeto Contracondutas poderia também se tornar um instrumento de aproximação entre universidade e comunidade.

A “base móvel” foi recentemente inaugurada no Campus Guarulhos e está sendo utilizado para Atividades Públicas do projeto Contracondutas, conta com a participação da comunidade, de discentes e docentes, além de diversos convidados. Estas atividades vão desde oficinas, debates, mesas redondas, até conversas que visam promover a dissolução do modelo de poder que rege a sociedade e os domínios do ensino e da arte, mesmo que em limites restritos, este dispositivo tem por objetivo pensar ações que promovam a arte apartada do sistema hegemônico, a partir de uma relação horizontal, em que o conhecimento e as possibilidades possam ser partilhadas.

A Base Móvel faz parte de um conjunto de proposições já desenvolvidas pelo artista Vitor Cesar, que assume diferentes formas em contextos e colaborações específicas e no presente caso foi desenvolvida conjuntamente com a UNIFESP. A construção coletiva desta obra foi um delineador que produziu um instrumento amplo, agregador e com maior ação dentro da proposta de mediação, e com possibilidades de atender um caráter extensionista.

Prioritariamente, foi pensada para que grupos apartados possam acessar o domínio das artes, por exemplo, as comunidades periféricas de Guarulhos, que poucas chances têm de acessar o sistema institucional das artes, como museus, galerias, centros culturais e locais onde existam produções artísticas em profusão. A Base Móvel em si tem uma proposta motivadora, e o ponto principal a se levar em consideração dentro do processo de criação artística é o fato de que o instrumento tem um processo criativo de construção baseado em uma forma coletiva de se abranger a formatação da obra, o que possibilita um alcance considerável de seu resultado, diferentemente dos modelos tradicionais de criação de uma obra que é individual e que se limita a interesses restritos.

O conceito da base móvel é de um dispositivo para atuar no entrelugares de encontro e de partilha da sensibilidade coletiva em uma perspectiva ética e estética. Sua função, seu alcance e os limites de possibilidade deste dispositivo, talvez permita à UNIFESP romper com os “muros” da universidade, do Saber institucionalizado e organizado dentro de uma lógica do Poder, promovendo novas formas de mediar, agregar e partilhar. Para além do acúmulo do capital cultural teórico, a base móvel deve produzir coletivamente experiências reais capazes de criar novas formas de (contra)condutas, novos meios de pertencimento e povoamento dos espaços e novas linhas de fuga.

Trata-se de pensar o Saber para além de uma prática discursiva que se encontra especificada no domínio constituído do status científico-acadêmico, mas produzí-lo em um espaço de partilha do sensível em que o sujeito possa tomar posição para falar dos objetos que ocupam seu discurso, através de um processo permanente de (re)significação e de (re)apropriação das possibilidades de conhecimento e de utilização desse espaço de encontro e partilha.

Fazer ver e fazer falar, estas, são as principais características que se pretende para este dispositivo, a visibilidade permite se realizar ao se difundir e distribuir o visível e o invisível, um espaço que possa promover o ver (saber – conhecimento) e o dizer (poder – discurso). Trata-se de compreender as posições diferenciais dos elementos envolvidos, curvas que distribuem variáveis. Um dispositivo implica linhas de forças, que operam idas e vindas entre o ver e o dizer e inversamente, como nos diz Agamben, agindo e penetrando as coisas e as palavras, produzindo uma luta, através de um conjunto de “práticas e de mecanismos que têm o objetivo de fazer frente a uma urgência e de obter um efeito”.

Sua principal função é promover o encontro, agregando em si a função de “meio”, funcionando como agente capaz de formular e partilhar orientações éticas e estéticas, estabelecendo diálogos em torno de diferentes locais, discursos culturais e artísticos. O entrelugares do encontro das sensibilidades, ocupando os espaços coletivos dos corpos autômatos enquanto um espaço do encontro e promoção dos processos de subjetivação, em que somos mais que organismos, somos território de afetos. Esse dispositivo deve ser uma base de experimentações para os corpos que ali se colocam em sua força de criação, permitindo a potencialização através de linhas de fuga.

Não se trata apenas de um dispositivo potencializador da experiência estética, mas de um espaço de “partilha do sensível”, um espaço de mediação que seja capaz de captar as práticas artísticas, que em si são formas de produção de arte que buscam formas modelares de ação e distribuição dos dispositivos de sensibilidade coletiva, e, através deste espaço, enfatizar as interconexões simbólicas presentes entre historicidade das formas com o conjunto dos principais vetores morais, sociais e políticos presentes. Trata-se, sobretudo, de um dispositivo que permita a heterogeneidade, em que os discursos sejam partilhados em um processo que possibilite a (re)criação de novos sentidos e significados através das interações dos sujeitos que visam a promoção de novas formas de povoamento dos espaços, não apenas territoriais, mas humanos, afetivos, éticos e estéticos em múltiplas possibilidades de organização sociopolíticas que atuam e pesam sobre nós.

Assim, nós sujeitos, devemos, pois, habitarmos para modificarmos, retomar o dispositivo como prática em outras práticas, onde o conhecimento é produzido nesse encontro entre sujeitos que compartilham uma sensibilidade coletiva, em que a arte e a (contra)cultura venham dar respostas e contributos significativos para o desenvolvimento ético e estético dos territórios que possa vir ocupar, favorecendo, deste modo, possíveis linhas de fuga, na qual o desejo possa fluir e construir nas relações partilhadas de sensibilidades, novas maneiras de ser, sentir e agir. O que faria da vida uma arte, e da arte, uma política.

Um encontro profícuo, pode assim ser resumida a parceria criada entre Escola da Cidade e Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Na qual tornou-se possível reflexões sobre os processos de curadoria e mediação, aproximando o exercício crítico das práticas curatoriais, dialogando com as atividades de pesquisa e extensão realizadas pelo projeto Contracondutas. E que segue em andamento em um projeto de extensão realizado desde então, configurando-se em atividades vinculadas a outras Unidades Curriculares do curso de História da Arte, e com o desejo de prosseguir atuando e sendo desenvolvida futuramente.

Essa extensão acadêmica está sendo uma forma singular de experimentação e criação de formas de curadoria e mediação crítica, tal como a construção deste dispositivo móvel que pretende auxiliar na articulação das atividades que contemplem o projeto pedagógico da Universidade com a comunidade de Guarulhos, através de práticas que permitam a criação e experimentação de formas de mediação crítica que articulem as atividades didático-pedagógicas, bem como pesquisas realizadas dentro e fora da UNIFESP com a participação da comunidade de Guarulhos.

O dispositivo itinerante (base móvel), é atrelado dentro do processo de extensão acadêmica, pois foi pensada como um instrumento ativo e não apenas um espaço passivo, que irá ao encontro daqueles que são apartados do sistema das artes, atuando em escolas, parques, praças, terminais de ônibus, coletivos ou espaços culturais, etc., permitindo sempre reinventar seus processos de interatividade através de cada nova experiência. Abrir-se para a cidade é uma necessidade que a Universidade deve cumprir, enfatizando o seu caráter de pesquisa e extensão, retirando o espaço acadêmico do isolamento. Isso permitirá que futuras atividades desenvolvidas pelos Laboratórios em Práticas e Pesquisas em História da Arte possam discorrer acerca de seu papel extensionista, discutir os problemas da exposição pública da arte, os métodos e questões inerentes à curadoria e à estruturação de espaços expositivos, compreendendo-os dentro das relações de poder que hierarquizam e delimitam o sistema das artes e os que são dele apartados, atravessando e rompendo as relações entre arte e política.

A participação da UNIFESP através de um exercício de mediação no projeto Contracondutas: Um olhar crítico sobre as intervenções públicas.

Como dito no texto anterior, a Associação Escola da Cidade – Arquitetura e Urbanismo (AEC) assumiu a responsabilidade de atender ao Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), referente à compensação pelo processo de trabalhadores que realizavam a construção do Terminal 3 do Aeroporto Internacional de Guarulhos em regime análogo à escravidão. Em cumprimento às exigências do Ministério Público, a Escola da Cidade realizou um processo de seleção de intervenções públicas por meio de Edital Público, além de convite à grupos e artistas que pudessem desenvolver obras que problematizassem e promovessem o debate público, referente ao impacto das grandes obras de infraestrutura, à migração e ao trabalho análogo ao escravo. Além disso, foi realizada uma parceria com a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), através dos responsáveis pela unidade curricular Laboratório de Pesquisa e Práticas em História da Arte III do curso de Graduação em História da arte, Vinicius P. Spricigo e Pedro Fiori Arantes. Na qual a participação foi a de cumprir um papel de mediação crítica, através dos docentes responsáveis e discentes envolvidos, mediando encontros entre os responsáveis pelas intervenções públicas e a curadoria geral do projeto Contracondutas, de forma a analisar criticamente o processo de criação artística das intervenções à luz de algumas dimensões da arte ativista contemporânea, como os trabalhos de Tucumán Arde e proposições teóricas de Brian Holmes.

Os alunos foram estimulados a desenvolver suas análises sobre as obras artísticas que participaram do projeto Contracondutas: pesquisa sobre trabalho e migração na construção civil, desenvolvido pela Associação Escola da Cidade. As propostas de intervenções públicas e os trabalhos do Contracondutas são uma resposta ao TAC e têm como horizonte o tema do trabalho em regime análogo à escravidão, de forma que o debate sobre tais questões seja realizado de forma ativa e conjunta com os principais vetores envolvidos. Além de discutir uma narrativa curatorial que aproxime as intervenções, é necessário que se molde estratégias para um trabalho coletivo que vá além de um discurso, deslocando estas em consonância com as dimensões da arte ativista, enfatizando e problematizando o debate público referente ao impacto das grandes obras de infraestrutura, à migração e ao trabalho em regime análogo à escravidão.

O convite feito à UNIFESP pela equipe de curadoria do projeto Contracondutas foi muito importante, tendo em vista que, através desta parceria, ocorreu uma aproximação entre os artistas para a discussão de suas propostas iniciais, mostrando-se abertos ao diálogo, bem como a debates e esclarecimentos. A participação da UNIFESP questionou as estratégias de articulação entre os artistas de forma a promover um maior alcance de tais propostas, tendo em vista que a ação do grupo da UNIFESP foi a de cumprir um papel de mediação e de aproximação dos diálogos e das intervenções com o público. Nesse sentido, a estratégia adotada pela curadoria foi objeto de reflexão de acordo com os pressupostos discutidos durante o semestre e que levantamos aqui: pensar estratégias de articulação coletiva, juntamente por intermédio da UNIFESP, visando maior potencialidade dos resultados através das articulações propostas durante os encontros, contribuindo positivamente com a exposição das intervenções públicas.

As propostas de intervenção pública foram selecionadas por meio de Edital Público e Aberto, publicado pela Escola da Cidade e que tiveram o direito de participar do projeto Contracondutas: Caderno de Campo por Vânia Medeiros; Centoeonze pelo Coletivo Metade – Ana Transchesi, Isabella Beneduci Assad; e Em Paralelo por Danielli Wal, Guilherme Garmatter, Mayara Wal, Milene Gil, Semyramys Monastier. O projeto contou ainda com parcerias de artistas e convidados: Mise-en-scéne/Maquete por Raquel Garbelotti; GRU III: Contracartografias por NEC-USP e Coletivo 308, (último convidado a participar do projeto por indicação dos discentes de Laboratório III do curso de História da Arte da UNIFESP).

A participação da UNIFESP, basicamente realizou-se da seguinte maneira: após uma apresentação panorâmica do projeto Contracondutas e das obras pelos coordenadores do projeto na forma de aula inaugural, se seguiu uma série de encontros presenciais e à distância entre os artistas, coletivos e os discentes. Esse diálogo resultou em encontros públicos com os envolvidos no projeto para integralização e partilha dos resultados das propostas em articulação às diversas esferas, na qual a UNIFESP foi responsável pela mediação.

Paralelamente, foi proposto aos alunos de Laboratório III, que fizessem reflexões críticas sobre as intervenções dos artistas, à luz dos projetos de Tucumán Arde e das dimensões críticas de Brian Holmes para a Arte Contemporânea, além de reflexões sobre algumas das últimas propostas das Bienais de Arte de São Paulo (inclusive com uma visita in loco e direcionada pela 32ª Bienal de São Paulo – Incerteza Viva), sobretudo com um olhar para as relações entre arte e política, a fim de fomentar a percepção crítica acerca da arte.

Durante os encontros com as equipes que participam do projeto Contracondutas, os artistas tiveram a oportunidade de apresentar com maiores detalhes as suas propostas aos alunos que, por sua vez, podiam realizar questionamentos e sanar suas dúvidas acerca das intervenções, promovendo debates em sala de aula que elucidavam as propostas artísticas, bem como levantavam questionamentos críticos que fomentavam algumas reflexões acerca das propostas, tornando-as mais interessantes do ponto de vista do público e da mediação.

A UNIFESP foi, sobretudo, mediadora entre a curadoria geral do projeto e as propostas de intervenção pública e possibilitou que as intervenções produzidas pelos artistas e coletivos de arte, contribuísse para o projeto com excelentes reflexões e pensamentos críticos acerca das condições do trabalho na construção civil. Os artistas fizeram uso de métodos de apresentação com demonstrações particulares de intervenção que atenderam, integralmente, as condições para participar e fazer parte do projeto Contracondutas. Cada grupo, em diálogo com a UNIFESP, conseguiu realizar questionamentos críticos e reflexões acerca das condições do trabalho a que foram expostos os trabalhadores flagrados em condição análoga à escravidão, mediando no espectador debates e críticas quanto às condições de trabalho em obras de grande porte. Pode-se afirmar que as obras responderam aos objetivos propostos, pois conseguiram problematizar de diferentes formas as principais questões envolvidas no projeto.

A articulação artística e política, talvez, seja o ponto de convergência entre o projeto Contracondutas e Tucumán Arde, pois ambos tentam alcançar pessoas que estão alijadas dos processos artísticos mediante concepção artística coletiva, questionadora das (contra)condutas que agem na sociedade (por exemplo, a expropriação da mão de obra em regime análogo à escravidão). O processo de denúncia de forma simbólica, provavelmente, constitui uma maneira de aproximar as classes de artistas, intelectuais e principalmente trabalhadores, desenvolvendo um produto de resistência cultural amplificado dentro da sociedade.

A exemplo de Tucumán Arde, o projeto Contracondutas também ocorreu em diferentes frentes, estas, tiveram como ponto de partida atender a denúncia do Ministério Público sobre a situação análoga à escravidão de trabalhadores na construção do Terminal 3 do Aeroporto de Guarulhos. Em certa medida, todos os trabalhos rememoraram os fatos que ocorreram com os operários, o que reafirma a proximidade do projeto argentino com o propósito assumido pelos artistas que participam do Contracondutas.

Pensar a arte pelo prisma da denúncia é um debate fundamental na sociedade, de forma a mediar questões que possam se tornar eixos de transformação e reflexão social. Talvez, a demanda do TAC seja uma das mais importantes para se estabelecer relações com este tipo de atividade de denúncia, respeitando os limites que a Legislação impõe aos artistas. Faz parte do processo artístico conseguir se desvencilhar das barreiras legais e tornar a arte um instrumento de luta.

A proposta extensionista da disciplina de Laboratório III foi colocar os estudantes diante de experiências práticas de curadoria e mediação, o que foi devidamente atendido no decorrer do segundo semestre de 2016, e que continua sendo promovida no projeto de extensão desenvolvido desde então. Os alunos da UNIFESP tiveram uma experiência singular de acompanhar o processo de construção de diálogo entre a curadoria e os artistas por meio de discussões, fóruns, palestras e debates, nos quais o exercício de mediação se fez presente, cumprindo requisitos importantes para a formação de um historiador da arte.

Foi possível aos alunos observarem as dificuldades de realizar um processo de curadoria, sobretudo quando a quantidade de agentes envolvidos no processo é considerável, o que dificulta o processo comunicativo entre cada uma das frentes. Neste sentido, as aulas de Laboratório III trouxeram uma reflexão crítica e teórica, além de estabelecerem uma diferente relação entre a mediação e a curadoria, em que a mediação crítica se impõe como um modelo que promove um diálogo constante com os trabalhos, diferentemente de uma mediação tradicional, que age passivamente em relação as obras.

Foi possível notar que nos primeiros encontros da UNIFESP com os artistas, a distância e a dificuldade comunicativa entre os projetos de cada uma das intervenções, aparentemente isoladas, só se aproximavam através da narrativa curatorial; do mesmo modo que a vinculação destes com a realidade da comunidade do entorno do aeroporto, pareceu ser pouco explorada em um primeiro momento, mas, doravante, isso pareceu ser articulado no decorrer do processo com o papel de mediação crítica estimulado pela presença da UNIFESP no projeto Contracondutas. Ou seja, a estratégia adotada pela curadoria geral, por meio desta parceria, aproximou de forma relevante os trabalhos e todos os envolvidos no projeto, com o objetivo de atender não só a curadoria geral, mas também o TAC.

A aproximação entre os artistas, mediadores e curadores é fundamental para que os resultados não estejam presentes apenas no final, mas durante todas as fases de produção, caracterizando um dos possíveis processos de criação da Arte Contemporânea, tal como foi o processo criativo do projeto Contracondutas. Isso permite, de forma geral, levar o público a reflexões que transmitam um Efeito Transformador. Pois, afinal, não obstante, em muitos trabalhos realizados na Arte Contemporânea, é a produção que se destaca pelo seu caráter experimental e inovador, talvez, mais que a própria obra final, ou melhor, a obra é exatamente a produção e não seu resultado. Basta observarmos os trabalhos já suscitados, como a Arte Ativista de Tucumán Arde que, através de seu caráter artístico-político, buscou explorar a interação entre linguagens artísticas e a ação coletiva, ou seja, realizou-se através de uma atuação coletiva e multidisciplinar, não se esgotando em si mesma, na qual a centralidade da ação é deslocada para o público, promovendo com isso a transformação da realidade e compreendendo a integração entre arte e vida (política).

Esta se tratou de uma oportunidade única aos alunos na qual se privilegiou os processos de curadoria e mediação, com acompanhamento e reflexão sobre determinadas práticas adotadas no projeto Contracondutas. Salientando que se tratou de uma parceria altamente profícua, visto às contribuições que se tornaram possíveis, pois através do papel de mediação adotada pela UNIFESP, foi possível o diálogo entre os diversos envolvidos nas intervenções, de tal maneira que as obras acabaram dialogando e contribuindo para as demais, através dos diferentes exercícios propostos durante o processo. Tal foi o papel da participação da UNIFESP, atuar como mediadora crítica, aproximando os diferentes envolvidos no projeto, por meio de um olhar crítico sobre as intervenções públicas.

Doravante, vale ressaltar que a estratégia adotada pela curadoria geral acabou por promover exatamente uma das principais questões quando se pensa na curadoria: a difícil comunicabilidade dos agentes envolvidos. Trazer os artistas, pesquisadores, agregando docentes e discentes de diversas universidades, e todos os demais envolvidos no projeto, ajudou exatamente nesta coletividade, tão difícil de ser atingida plenamente, cumprindo a proposta do TAC, que é a promoção do debate e fomento do reconhecimento dos direitos do trabalho.

Uma das principais contribuições do projeto Contracondutas, em resposta ao TAC, é problematizar e promover o debate em esfera pública referente ao trabalho análogo a escravo, de maneira a reconhecer os direitos do trabalhador, através de uma ação ativa e conjunta com os principais vetores da sociedade. Pois, deve-se lembrar sempre que todos os inseridos em um sistema capitalista da produção de mais-valia, e em contextos de opressão e domesticação, são submetidos a possíveis agentes. Salientando que é inerente a esta lógica a questão da luta de classes, ou seja, estamos todos submetidos às condições de possíveis agentes de trabalho análogo a escravo.

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