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23.10.2017

(11) Da cidade ao Igarapé: uma arquitetura de morar para Manaus

“[…] Nós que chegávamos precisávamos aprender. Substituir nossos conceitos, chegamos a dizer a um grande amigo em janeiro de 65, quando subíamos o rio Amazonas, que alfabetizar este homem naquele momento a nosso ver seria um mal maior de que deixá-lo ir absorvendo estes ensinamentos, transmitidos de geração a geração e que não constam em livros, pois estes eram tão importantes nesta região quanto a necessidade do homem nas cidades de ler, escrever, tirar cursos e ter diplomas.

E aí encontramos as casas bem situadas e bem orientadas. Construídas de madeira, de palha e até mesmo de alvenaria. Encontramos a casa flutuante, construída sobre troncos de madeiras de balsas, exemplo de solução ecológica adequada às condições de nossos rios, onde a variação de seus níveis anualmente atingem a média de 10 a 12 metros, transportando as suas margens a centenas de metros de distância. E a casa se desloca e acompanha estas margens.

Na cidade víamos e vemos bem forte a presença desse homem e dos seus recursos para trabalhar a madeira, afeito que é ao processo construtivo de embarcações e nos bairros de população ribeirinha e nos de menos recursos encontramos as soluções mais criativas, ricas de elementos construtivos importantes como varandas, treliças, passadiços, sanefas (fechando a noite áreas abertas durante o dia), etc.

Em algumas casas vemos os seus proprietários desejando dentro de seus conceitos de “evoluir” atingir a primeira frase de transformação das casa de madeira para a de alvenaria, substituir a sua fachada principal antes de madeira por outra feita com tijolos e cimento. A criatividade, a espontaneidade, o domínio do processo construtivo torna o seu proprietário apto a qualquer momento e muitas vezes em horas, introduzir alterações na mesma, abrindo vãos, criando cômodos, evidenciando dessa forma o domínio absoluto do espaço em que vive.

Contrastando com essa flexibilidade construtiva, vemos todo o restante das habitações, cujo exemplo maior são os conjuntos habitacionais, onde os seus altos custos, as suas soluções e elementos construtivos são em sua maioria inadequados a região. Há que se questionar a habitação seriamente em todos os seus níveis e elementos componente de suas soluções. Grades, elementos vazados, brises verticais ou horizontais, treliças, venezianas fixas ou reguláveis, jalousie, devem ser usados fartamente e corajosamente sempre que necessário. A ventilação cruzada deve ser uma preocupação constante bem como a proteção das fachadas com beirais generosos, pérgolas, vegetação e outros elementos.

Vamos tentar sacudir um pouco tudo que aprendemos e nos condicionamos a utilizar, para ver se conseguimos atirar longe conceitos de construção, soluções e espaços inadequados, substituindo-os com criatividade, segurança e coragem por outros adequados a nossa região para benefício das pessoas que aqui vivem e moram nas casas que aqui fazem.”

* Transcrição da apresentação do arquiteto Severiano Porto para o Seminário “Artes Visuais na Amazônia”, em 09 de novembro de 1984. (Texto do próprio arquiteto)

Grupo 11: Bianca Batista, Isabela De Bonis, Leticia Encinas, Mably Rocha, Veridiana Fiorotto
Orientadora: Cristina Xavier

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