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23.10.2017

(17) Roda moinho

Em um primeiro momento, pareceu-nos que a relação mais direta entre pensar e fazer se manifesta numa estética como a da gambiarra. Na busca por entender essa estética, que é bastante particular no Brasil, estudamos o conceito de bricolagem, definido na antropologia por Lévi Strauss. A diferença entre um bricoleur e um cientista, segundo Lévi Strauss, é a de que o primeiro se utiliza de signos para suas construções enquanto que o segundo, trabalha com conceitos. Já o artista, este se situa no meio do caminho entre os dois.

O desejo de entender os conceitos acima surge da necessidade de compreender o descompasso atual entre o ato de projetar e o de construir. Emerge com ele a vontade de possivelmente nos colocarmos mais como bricoleurs, cientes de nossa formação como artistas, flutuando entre conceitos e signos a fim de uni-los e, através de nossa atuação, questionar espaços que não geram senso de identidade.

Paralelo a estas leituras, reconhecemos a Favela do Moinho como local de estudo— marcada pelo encontro de dois desenhos distintos de cidade — como parte integrante da cidade formal (científica) é constantemente negada pelo poder público, a ver pela constante luta por uma regularização deste espaço pelos seus habitantes. No desejo de ressaltar esse espaço como pertencente do mesmo contexto físico e igual como “cidade”, surge então a proposta de iluminação da favela, como resposta à negligência do poder publico em legitimar esses espaços e reconhecer outros modos de fazer cidade.

Para que o funcionamento desse sistema de iluminação funcionasse independente ao poder público, foram estudados alguns tipos de mecanismos que fossem retroalimentados. Seguindo a vontade de usar esses sistemas de energia, imaginava-se que dois tipos de sistema seriam usados no projeto: energia eólica e um mecanismo de rodas ligadas à dínamos. No entanto, concluímos que ressignificar a relação do Moinho com as linhas de trem era de ordem de maior importância. Optou-se por fazer isso usando apenas o trem como fonte de energia da iluminação dos espaços públicos da favela.

Portanto, tirando partido do trem como fonte de energia, tornou-se necessário entender as múltiplas questões em torno do desenho de um mecanismo que dê conta de atingir a potência necessária para acender as lâmpadas e coexista com a linha do trem.

Assim, a última etapa deste trabalho consistiu no desenho e construção de um protótipo de um destes mecanismos, para que fosse possível entender como se dá o funcionamento deste tipo de captação de energia e sua distribuição ao longo da favela. Esse mecanismo é composto por uma roda com trinta centímetros de diâmetro, que está ligada a um alternador de carro por uma correia. O alternador, ao girar com a roda, gera energia que fica armazenada numa bateria, também de carro. Da bateria sai o cabeamento que se liga às lâmpadas. Este cabeamento está envolto por canaletas que se assemelham à mangueiras, que seguem as fachadas das casas que faceiam as vias iluminadas. A escolha por este tipo de conduite se deu por sua maleabilidade, podendo se adaptar à organicidade do desenho das ruas e vielas.

Como a construção deste protótipo não foi in loco, tivemos que adaptar sua base, uma vez que não haveria como fazer a fundação proposta. Os outros elementos do protótipo, no entanto, são como o desenho. Um destes mecanismos consegue gerar energia o suficiente para acender seis lâmpadas de 12V. O projeto conta com setenta lâmpadas. Então, seriam necessários dezoito módulos para iluminar os espaços da favela. As dimensões de cada módulo são de 80x200x100cm. A implantação destes módulos ocuparia área pouco significativa comparada com as dimensões da favela e linhas de trem.

O desenho deste mecanismo e sua relação com as condições locais reforçam o desejo de atingir um projeto que opere como uma alternativa de iluminação, independente de órgãos públicos. Para isso, é preciso que o objeto proposto tenha baixo custo de construção e manutenção, trazendo como contrapartida alta potência energética, se relacionando com o trem de modo mais sutil e poético.

Grupo 17: Clara Varandas, João Marujo, Lígia Zilbersztejn, Luiza Tripoli, Marian Rosa
Orientadora: Camila Toledo

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