A partir do tema modos de pensar, modos de fazer, este trabalho buscou um registro atual do processo de projeto, obra e pós-obra de um mutirão autogerido, com o intuito de afirmar que este modo de produção ainda se vê como alternativa real ao modelo tradicional-capitalista da construção civil, indissociável das grandes empreiteiras e do mercado imobiliário e também estabelecer um espaço de debates sobre este tema no ambiente acadêmico.
Tendo como forma de registro um documentário, o tema central é: o Mutirão Autogerido como processo transformador do indivíduo e do coletivo, dando ênfase na emancipação ocorrida com os mutirantes. Neste trabalho, o canteiro de obras é discutido a partir do estudo sobre o Grupo Arquitetura Nova (Sérgio Ferro, Rodrigo Lefèvre e Flávio Império) e da abordagem crítica (marxista) em relação à divisão do trabalho – na chave da arquitetura como mercadoria capitalista, fruto da exploração da mão-de-obra, “resultado do processo de valorização do capital” e da separação entre trabalho intelectual e manual.
Busca-se também entender a postura do arquiteto em relação ao cliente e ao trabalho no canteiro de obra. No caso dos mutirões – onde é preciso “desenhar “cara-a-cara” com a população” – se soma o desafio, para o arquiteto, de se aproximar de outra classe social, relação que gera um “confronto entre as culturas do técnico e do mutirante” – e, com isso, aparece a necessidade de desenvolver algumas metodologias para discutir e desenvolver projetos coletivos.
Mediante aproximações com o Movimento Sem Terra Leste 1 – UMM, foi selecionado o conjunto de edifícios dos Condomínios Florestan Fernandes e José Maria Amaral, em fase final de obra na Cidade Tiradentes (zona leste da cidade de São Paulo), que foi viabilizado pelo programa federal Minha Casa Minha Vida Entidades por autogestão e com assessoria técnica da Ambiente Arquitetura. O projeto iniciado em 2009, em fase final de construção, possui apartamentos de 58m², de tipo multifamiliar, com acessibilidade para deficientes físicos. São 13 edifícios de 7 a 12 andares, alguns interligados por passarelas, e o centro comunitário de três andares, computando 396 apartamentos. O projeto é pioneiro na verticalização, com elevadores, e na compra antecipada do terreno em uma construção por mutirão com autogestão.
O objeto de estudo são os edifícios acima apresentados e, sobretudo, os mutirantes que participaram do processo. Durante as entrevistas e conversas com os participantes deste mutirão, nos aproximamos de algumas pessoas específicas, que trazem a tona o processo de emancipação do indivíduo e do coletivo. Entre elas estão: Fernanda Alves (coordenadora do grupo e futura moradora do condomínio), Renata Miron (arquiteta representante da Ambiente Arquitetura), Jorge Mendes (futuro morador do condomínio) e Cristiane Lima (coordenadora da União dos Movimentos de Moradia – UMM).
Através de diversas discussões sobre o tema, nota-se que há uma carência de documentação sobre o empoderamento dos mutirantes como resultado do processo de mutirão autogerido e, ao mesmo tempo, de conscientização do restante da sociedade sobre esta forma de trabalho e de luta pela moradia.
Portanto, o objetivo central do trabalho, o qual se desenvolverá para um Trabalho de Conclusão, numa segunda etapa, é atualizar o banco de dados sobre esta forma de construção e de canteiro de obra, reafirmando-a como alternativa ao modelo tradicional do mercado imobiliário.
O documentário, primeira parte do projeto e produto final desse semestre, funcionará tanto como principal modo de divulgação e chamariz para o tema do trabalho, quanto forma de devolução de material para as próprias famílias que ajudaram a fazê-lo e aguardam o resultado final do filme.
Grupo 07: Gabriela Pini, Isabella Rosa, Julia Daudén, Marina Secaf, Ugo Breyton.
Orientador: Ruben Otero e Carol Tonetti