O grupo teve como partido inicial entender os canteiros de obra e sua relação com a cidade. Dessa maneira, concluímos que a etapa construtiva, antecedente da materialidade final do projeto, é fundamental para o conceito de processo. Para isso, nos aprofundamos nos escritos do arquiteto Sérgio Ferro e da arquiteta Lina Bo Bardi, os quais se esforçam para romper as barreiras entre projeto e canteiro, contribuindo para uma produção arquitetônica menos hierárquica e mais experimental.
Com base nessas leituras, buscamos entender as principais dinâmicas dentro de um canteiro de obra, sempre investigando as relações entre linguagem-obra e corpo-obra. Sendo linguagem-obra, uma investigação sobre as possíveis linguagens que podem ser transmitidas/desenvolvidas no canteiro, e corpo-obra, uma investigação sobre a pluralidade de relações entre as pessoas que participam cotidianamente da obra, as que projetam, as que constroem, as que virão a usufruir daquela espacialidade, ou mesmo as que moram/transitam no entorno da obra e também acabam participando dela.
Para isso, também a partir de uma reflexão pautada na dinâmica não tradicional e mais fluida entre projeto e canteiro, o grupo buscou entender o processo de três projetos de arquitetura já realizados, o COPROMO, o SESC Pompéia e as Escolas Transitórias de Goiás, e de dois outros projetos que estão sendo construídos, a restauração da Vila Itororó e a construção do Instituto Moreira Salles.
Dessa maneira, todo o processo de pesquisa teórica e prática do grupo resultou numa investigação sobre o que torna um canteiro aberto-fluido-poroso e, consequentemente, o que o fecha para a cidade, assim, concluímos que tudo isso está vinculado ao tapume. Esse elemento, tanto na sua presença material quanto ideológica, pode ser definido como um objeto-conceito que oculta o processo de trabalho dentro dos canteiros de obra e bloqueia sua vista para a cidade. Sendo assim, a ruptura do tapume é um gesto que se propõe a estabelecer relações mais abertas e flexíveis entre obra e cidade.
Assim, ao buscar nos tapumes o cerne da nossa proposição, aprofundamos a análise sobre um canteiro de obra já visitado e mapeado, o restauro das casas da Vila Itororó. Essa escolha se deu justamente pela forma mais aberta como o canteiro é gerido. Pois, mesmo se tratando de um canteiro muito acessível que busca ampliar as relações da cidade com o processo de obra e com a história da vila, identificamos uma série de potencialidades que viabilizam um projeto de intervenção ainda mais revolucionário do que a realidade atual. Nesse contexto, nos propusemos a discutir com mais radicalidade os tapumes dessa obra e sua relação com o bairro do Bixiga.
O projeto de intervenção procura estabelecer relação com a história da vila, desde sua construção nos anos 20 até os conflitos atuais, com sua arquitetura, monumental e surrealista, com seu entorno, rodeado pelo bairro do Bixiga e também com as características geomorfológicas do terreno, que possui acentuado desnível a partir da Rua Martiniano de Carvalho tornando-o um vale antes alagado pelo rio Itororó.
Além disso, ao discutirmos possíveis formas da cidade se debruçar sobre o canteiro, entendemos a Vila Itororó como um ponto muito estratégico. Pois, além de todas as potencialidades citadas, talvez a mais interessante seja a disposição espacial das casas e do canteiro dentro da quadra e as vistas que são geradas a partir dela. Dessa forma, a travessia por dentro da quadra vinculada a uma participação mais efetiva da cidade no canteiro resulta numa intervenção-projeto.
A proposta do projeto é realizar essa travessia usando andaimes como técnica construtiva, conectando a cota mais alta do terreno, na rua Martiniano de Carvalho onde também está a escadaria que antigamente dava acesso a vila, à casa oito, que foi recentemente restaurada e está localizada numa cota sete metros mais baixa no ponto de acesso oposto para a vila, na Rua Maestro Cardim.
A partir da escolha dos andaimes o grupo pretende dialogar com a linguagem já estabelecida dentro dos canteiros de obra e também explorar a flexibilidade construtiva desse material, uma vez que é uma técnica de montagem rápida, maleável, que se articula muito bem com a declividade do terreno. Dessa forma, esse material também possibilita um percurso quase aéreo, que passa por dentro do canteiro, mas ao mesmo tempo só estabelece vínculos visuais com a arquitetura em ruínas e a obra de restauro, o que torna essa passagem ininterrupta, desvinculada aos horários de visita do canteiro e aos tapumes.
Grupo 36: Graziela Godoy, Isabela Moraes, Marina Schiesari e Rebeca Domiciano
Orientadora : Marta Moreira