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26.09.2017

(28) Outras narrativas: o desenho como ato

Inicialmente, o processo investigativo do projeto se deu no campo da linguagem e de que forma esse meio sistemático influencia o modo de ser, pensar e fazer da natureza habitual de um indivíduo. Através de uma digressão presente no tema de TFG de uma das integrantes – a escola e as formas de apropriação física e subjetiva desse espaço após as ocupações secundaristas de 2015 -, surgiu o interesse de trabalhar com o mobiliário escolar – a carteira – e suas diversas (im)potências.

Para falar sobre escolas e seu espaço, precisamos falar de desenho – desenho arquitetônico, mas também de seu mobiliário. A carteira escolar remete a tempos distantes, e sua etimologia deriva de carta (do grego khártēs, do latim charta). Esse mobiliário antigo era ligado a pessoas da alta sociedade ou do clero, visto que seu uso era extremamente nobre – apenas quem sabia ler e desenhar poderia escrever nos papiros, papel muito caro, e exerciam funções como cartógrafos ou copistas. Não precisamos nos aprofundar tanto em História para perceber que o desenho do mobiliário escolar não teve expressivas alterações desde então – e sua função?

Outras narrativas se divide em:

  1. O desenho como programa;
  2. O desenho como subversão do programa;
  3. O ato político como desenho;
  4. O desenho como ato.

A pesquisa explorou ao máximo o desenho da carteira escolar e o projeto vê, em sua própria limitação simbólica e ergonômica (funcionando como um instrumento de controle clássico), a possibilidade de abstraí-la ao extremo: extraindo um novo possível mobiliário modular, móvel, multiuso e multidirecional, objeto-dispositivo que medeie novos usos e crie outras narrativas.

Com grande satisfação, o que parecia ser somente um ensaio teórico que alimentaria um trabalho de finalização de graduação, outras narrativas encontrou outros caminhos e criou outros desdobramentos possíveis. A equipe participou da ocupação inicial da Praça Aberta – Casa de Todxs, em 28 de abril de 2017, provocando uma grande reviravolta no processo de trabalho.

A resultante do projeto é o objeto-dispositivo.

O processo:

  1. O desenho como programa

Após o primeiro momento de discussão e reflexão em grupo sobre como o universo da linguagem seria inserido na estrutura do projeto, delimitamos impulso inicial do projeto – e uma das mais importantes para o processo.

Escolher o objeto carteira escolar para analisar e investigar sua história trouxe um universo de informações visuais muito rico. Conforme a catalogação do objeto era feito, um levantamento fotográfico sobre as diversas salas de aula ao redor do mundo ganhou corpo. Agora o olhar era sobre o conjunto de objetos e sua conformação espacial: como uma estrutura tão antiga de sala de aula ainda é implantada nos dias de hoje, nas mais distintas culturas e contextos sócio-econômicos? E esse modelo tradicional realmente funciona? A carteira escolar, embora não tenha evoluído conforme todas as tecnologias e métodos novos de ensino (comprovados), continua sendo o símbolo tradicional da escola;

  1. O desenho como subversão do programa

Aqui, o trabalho surgiu com outra pergunta que propôs um divisor de águas: quem são as pessoas que buscam inovar no ensino? E de que forma é feito espacialmente?

Vimos que as experiências pedagógicas alternativas, em geral, não modificavam tanto o mobiliário escolar em si, mas já promoviam sua redistribuição no espaço ou outras variantes físicas (luz, cor, som etc.) que contribuíssem para o aprendizado;

  1. O ato político como desenho

Entende-se como “ato político” a manifestação do indivíduo, o ser político, na sociedade. O recorte foram os protestos e ocupações secundaristas das escolas paulistanas entre 2015-2016. Aqui, o trabalho aponta que os manifestantes ressignificaram a carteira escolar, não somente enquanto mobiliário mas como um símbolo de luta e resistência. Os ‘trancaços’ (bloqueios de ruas e avenidas com carteiras escolares) e barricadas eram uma prática sui generis;

  1. O desenho como ato

Na parte final desse trabalho, surge um encontro fundamental para a conclusão deste. Em 28 de abril de 2017, Greve Geral, a FLM (Frente de Luta por Moradia) + diversos coletivos culturais, ocuparam um terreno público abandonado em pleno centro de São Paulo. Ao lado da Ladeira da Memória (Vale do Anhangabaú), foi inaugurada a Praça Aberta – Casa de Tod@s. O convite a participar da ocupação e das inúmeras reuniões que se sucederam foi bem-vindo para o andamento do trabalho, visto que as expectativas coletivas para esse terreno é que seja um espaço público de fato e qualidade, em sua essência, e tenham atividades de todos os tipos, inclusive aulas públicas (ou aulaços, como tem se popularizado nas manifestações dos últimos anos no Brasil).

Desenhando coletivamente aquele espaço, ainda com croquis e reuniões com moradores do entorno, alimentou a etapa final do trabalho e a nossa primeira proposta, enquanto equipe de estudantes de arquitetura, para a Praça Aberta: um objeto-dispositivo modular, móvel, multiuso e multidirecional que permita, criativamente e de forma coletiva, que as pessoas se apropriem e criem suas próprias narrativas – outras -, de acordo com as necessidades: uma arquibancada.

O Objeto-Dispositivo surgiu a partir das demandas levantadas em assembleia geral na Praça Aberta, em 30 de abril de 2017.

ato
actus, “algo feito, parte de uma obra, impulso”,
agere, “levar a, guiar, colocar em movimento”

A construção do objeto se dá em duas etapas e suas combinações/narrativas são inúmeras. O objeto surge a partir de dois módulos (4250x1900x1100mm) sob rodas (l), feitos de um sistema estrutural tubular de aço (50x50_2,65) soldado (a até i). As conexões se dão a partir da composição dos tampos [painéis de chapa dobrada de aço] do objeto (j – 2000x650x50mm – e k – 1000x650x50mm), cuja estrutura tem como referência os pisos de andaime.

Grupo 28: Bruna Marchiori, Catarina Calil, Manuella Leboreiro, Marcelo Jun Yamaga e Victoria Menezes

Orientadora: Carol Tonetti

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