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23.10.2017

(38) Precisamos falar sobre Alphaville

O tema deste Estúdio Vertical nos levou à reflexão de que, na prática da arquitetura, o PENSAR e o FAZER estão em constante conflito. O que é pensado, discutido e produzido no ambiente acadêmico nem sempre corresponde ao que é implantado nas cidades. Boa parte da arquitetura, no mundo “real”, da construção civil, é comercializada como um produto de marca. Dessa forma, chegou-se ao objeto de estudo: os empreendimentos residenciais Alphaville.

-Ih… Mas ALPHAVILLE?!

Ouvimos uma infinidade de comentários desconfiados de colegas, professores e até pessoas de fora do mundo da arquitetura sobre nosso trabalho. Não há como negar que condomínios fechados de alto padrão são assuntos tabu dentro das faculdades de Arquitetura. Além disso, as posições são sempre extremas: ou Alphaville é visto como o ápice do luxo, do conforto e da segurança, ou como o cúmulo da segregação, do elitismo e da negação da vida urbana.

Fica o questionamento: por que esses empreendimentos, claramente bem-sucedidos em termos financeiros e de aceitação pública, seguem diretrizes por vezes diametralmente opostas ao que se coloca com uma boa arquitetura e um bom urbanismo no ambiente acadêmico? Por que a discussão sobre Alphaville é sempre tão ferrenha, independente de quem esteja discutindo?

Um espaço infinito e vazio é o nada, mas murando-se uma porção dele, cria-se um lugar, mesmo que vazio.

Alphaville é um exemplo de construção de cidade a partir de uma tela em branco. Acreditamos que, apesar das questões ideológicas, políticas e estéticas, esse território pode ser visto com deslumbramento. O que é real e o que é ficção? Quais são os símbolos que ilustram a vida nos condomínios?

Seja Alphaville um bom ou mau exemplo, é um fenômeno que deve ser estudado, pois só se pode pensar as cidades do futuro entendendo as do presente. Por ter sido construído praticamente a partir de um tábula-rasa, o complexo Alphaville é um arquétipo de cidade contemporânea, e seus personagens, tramas, virtudes, falhas e contradições podem ser vistos em todas as outras cidades da atualidade.

A análise estética e a ironia são um caminho sedutor, mas pouco acrescentariam ao debate.

Assim, em primeiro momento, o grupo se debruçou sobre a análise da extensa bibliografia acadêmica que discute condomínios fechados. Aproveitamos, também, o fato de que três de cinco integrantes do grupo são ex moradoras de condomínios horizontais fechados no estado de São Paulo, sendo que uma residiu em Alphaville. Entrar em contato com a crítica estruturada sobre o assunto e discutir sobre experiências pessoais da vida em condomínios ajudou a criar uma visão menos maniqueísta, e acabou levando ao que seria o título e o tema da pesquisa: PRECISAMOS FALAR SOBRE ALPHAVILLE.

Precisamos criar um espaço para se falar sobre Alphaville- bem ou mal. Precisamos mapear espaços, relações, significados, agentes e discursos pouco visíveis através de contra-mapas. Precisamos fazer outras leituras e proporcionar outras leituras do espaço. Precisamos entender o sistema de regras que regem Alphaville. Precisamos falar sobre Alphaville, fazer falar sobre Alphaville e escutar sobre Alphaville. Precisamos de um site.

A estrutura do portal foi organizada a partir de uma paisagem ilustrativa dos elementos que compoem o primeiro bairro Alphaville, nosso objeto de estudo, localizado nas cidades de Barueri e Santa do Parnaíba, à poucos quilômetros de São Paulo. Conforme o visitante do site passa o cursor nas figuras, estas acendem e clicando nelas pode-se observar uma coleção de informações relacionadas ao assunto referente. Assim, conseguimos produzir uma plataforma informativa sobre o primeiro Alphaville,   que faz refletir tudo o que se pode observar de vantajoso ou não em tal modelo urbanístico e assim também tirar conclusões sobre o modelos de cidade que está sendo implantando cada vez mais no Brasil e que reflete nada menos do que uma resposta à lógica   do discurso do medo (Caldeira, Teresa) presente em São Paulo, que leva à “condominialização da vida”(Dunker, Cristian).

Grupo 38: Beatriz Dias, Camila Marchetti, Camille Zuckemeyer, Inaê Negrão, Stella Bloise
Orientador: Daniel Corsi

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