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24.04.2017

Oficina de mapeamento-não-convencional

Iconoclasistas

Na segunda-feira [03-04-2017], na Escola da Cidade, ocorreu a oficina aberta e gratuita com Pablo Ares, um dos membros da dupla argentina Iconoclasistas. A atividade aconteceu no âmbito do Seminário Internacional que, esse ano, recebeu a tônica do projeto Contracondutas: as políticas da arquitetura e o trabalho escravo na contemporaneidade. O laboratório de mapeamento propôs reflexões coletivas, criativas e críticas sobre o território através das reproduções contra-cartográficas, nas quais os participantes foram convidados a evidenciar questões sobre a cidade de São Paulo, interrogando-se sobre a "realidade" oferecida pelos mapas oficiais.

É com esforço coletivo que, lentamente, se reconquistam os vazios do Google e da seleção de dados apresentados pelos órgãos e narrativas oficiais que, por interesses (nem sempre) ocultos, tradicionalmente são os responsáveis por transformar o território em cartografia. Mapear é uma forma de evidenciar informações oficiais sobre dado território, mas com o interesse estatal por detrás dessa ação. “Contra mapear” é amplificar gritos políticos, éticos e sociais que influenciam diretamente na conscientização dos agentes e na visão ampliada de um território, se atentando aos interesses ocultados pelos mapas “oficiais”, já que todos os mapas são políticos e possuem um interesse por trás de seu desenho.

As “contra-cartografias”, amplamente discutidas dentro do projeto Contracondutas, buscam tratar das singularidades – dos indígenas, estrangeiros e femininos, além de outras minorias -, afim de expor suas problemáticas e direitos. A meta deste trabalho coletivo que busca a inclusão, é mapear junto a esses grupos suas diferentes territorialidades e temporalidades, gritar suas expropriações e outros descasos que sofrem dentro de um território do qual também são parte.

Arquitetos, faxineiros, empresários, estudantes ou recicladores podem contribuir com o “fazer em conjunto” proposto pelos Iconoclasistas. A diversidade de pessoas, vivências, visões e crenças trabalham juntas nos ateliês coletivos promovidos pela dupla e depositam ali, em uma mapa, toda essa carga heterogênea. Rico em informações e com divergências de pensamentos, esses mapas reúnem uma abundância de vivências com críticas evidenciadas por diferentes classes sociais e faixas etárias. O resultado, na realidade, não é um, são diversos: em um único mapa que cumpre uma função informativa, se soma o a denúncia e a evidência de algumas minorias pouco visíveis, retratando o território a partir de diferentes modos de ser e viver.

Às 9:45 da manhã da primeira segunda-feira de abril, chegamos na Escola da Cidade onde aconteceria a oficina de mapeamentos-não-convencionais com o artista argentino. Nos dirigimos à sala de aula para uma breve conversa com o artista que nos explicou do que se tratava o coletivo Iconoclasistas e a oficina que iríamos participar. Percebi que um mapa convencional, o qual nós, arquitetos e estudantes de arquitetura estamos habituados, apresentado de uma forma diversa, com um tom lúdico, acessível e de fácil entendimento, poderia ser uma preciosa ferramenta de comunicação e intercâmbio. De modo poético, os mapas propostos pelos Iconoclasistas tratam de evidenciar questões desejadas, fazendo com que qualquer um seja capaz de enxergar as problemáticas e atributos de seu próprio território, a partir de um modo de entender e fazer colaborativo.

O primeiro exercício proposto foi a elaboração individual do mapa de um trajeto cotidiano. Os resultados, confrontados a um grande mapa de São Paulo, demonstraram que a maioria das pessoas presentes representou seu percurso a partir de uma “visão de pássaro”, mas a principal conclusão que obtivemos foi que a escolha da escala do desenho dependia do meio de transporte através do qual se dava o percurso – mais distante quando feito por transportes rápidos e mais detalhados quando feito a pé. Além disso, os desenhos vinham acompanhados de símbolos muito significativos para aqueles que percorriam determinado caminho, como bares, rios e outras marcas da cidade, sendo possível encontrar coincidências e divergências quando comparados. Para aqueles que executavam percursos de bicicleta, a topografia era muito mais relevante do que para quem fazia o percurso de transporte motorizado. Para o último, diferentemente do que ocorre para os pedestres, que percebem as imagens da cidade muito mais claramente, esses símbolos e marcas territoriais se tornavam borrões, de modo que os momentos de parada em semáforos, por exemplo, eram demonstrados com mais significado.

De volta ao estúdio para realizarmos a segunda parte da oficina, três mapas da grande São Paulo estavam abertos sobre as mesas acompanhados de encartes de ícones – também disponíveis no site do coletivo. Cada grupo trabalhou um mapa: o primeiro trazia o título de “Problemáticas”, o segundo de “Práticas” e o terceiro de “Preconceitos”, e em cada mapa os grupos evidenciaram questões que eram pertinentes dentro da discussão. Ao analisarmos os mapas um ao lado do outro, notamos que eles representavam uma determinada classe social que vive em determinadas circunstâncias: a ausência de certas partes periféricas da cidade se mostraram latentes. Se houvesse uma amostragem mais heterogênea, pessoas de outros lugares, de outras classes sociais e vivências, o resultado teria sido mais diverso e o território em questão teria se amplificado. Como Pablo Ares descreveu em sua palestra no Seminário Internacional Contracondutas, “mapas feitos coletivamente com diferentes povos se faz necessário para um conhecimento maior e mais minucioso do mundo ou sociedade contemporânea” dentro dessa complexa sociedade em que estamos inseridos.

“O mapa não é o território”. As contra-cartografias, muitas vezes, não são georreferenciadas e não respeitam necessariamente uma escala convencionada, mas são instrumentos alternativos e pedagógicos para entender e sentir o mundo atual, como disse David Spierling em sua palestra no Seminário Internacional. Para Daniel, membro fundador da Frente 03 de Fevereiro, que discute questões raciais na forma de contra-cartografia e diagramas – além de documentários –, essa atividade é uma espécie de “produção de reflexões como respiro à pesquisa científica e acadêmica”. O artista utiliza a ação dentro da investigação promovendo a comunicação através da poética e do visual.

Pablo Ares e seu coletivo Iconoclasistas, além de outros artistas, arquitetos e professores que trabalham com cartografias diversas – como Daniel Lima e David Spierling -, buscam evidenciar e dar voz aos gritos de resistência de grupos feitos por minorias, dar voz àquilo que, durante o “voo do pássaro” promovido por setores governamentais e privados que tem interesses políticos e econômicos, se torna manchado ou mesmo invisível.

 

Relato por Karime Zaher

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