16.11.2016 _ História e Escravidão Diáspora e Colonização Rodrigo Bonciani Começo por três evocações que representam formas distintas de viver e pensar a diáspora: Por que me fez Deus um pária e um estrangeiro em minha própria casa? (...) somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra. Nós, crianças do futuro, como poderíamos nos sentir em casa nos dias de hoje? Na primeira frase, William Du Bois fala da diáspora como dupla consciência cindida: um americano, um negro: Sensação estranha (...) sensação de se estar sempre a olhar para si mesmo através dos olhos dos outros, de medir a nossa alma pela bitola de um mundo que nos observa com desprezo trocista e piedade. (...) duas almas, dois pensamentos, dois anseios irreconciliáveis; dois ideais em contenda num corpo escuro que só não se desfaz devido à sua força tenaz. Sentimento expresso em The Souls of Black Folk, Estados Unidos da América, 1903, noventa anos depois projetado, por Paul Gilroy, como utopia de libertação no Atlântico Negro. Na segunda frase, Sérgio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil (1936), fala desde uma perspectiva de estranhamento europeu, que busca uma síntese própria, branca e modernista, entre a natureza americana e a cultura ibérica. Por último, Friedrich Nietzsche estabelece o desterro como condição humana na modernidade, como devir, vir-a-ser. Partimos de barco, singrando a Calunga Grande, para investigar alguns significados e experiências históricas relacionadas às palavras “diáspora” e “colonização”.