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10.08.2016

A exposição como Meio de Comunicação

Vinicius Spricigo

A edição, entendida também como meio, torna público o processo dialógico que ocorre no Laboratório de Pesquisa e Práticas em História da Arte III do Curso de História da Arte da UNIFESP, colocando-se a um só tempo como arquivo de referências e meio de ensaio para o exercício da curadoria, a partir das questões ligadas ao trabalho escravo colocadas pela produção contemporânea em arte.

Em 1985, ao comentar a 18a Bienal curada por Sheila Leirner, Vilém Flusser identificou a exposição como um meio (medium). Tal diagnóstico partia do reconhecimento de que o contexto relacional definia os critérios de organização das bienais contemporâneas e não mais as obras e seus autores. O meio, a exposição, enquanto estrutura relacional, informaria o visitante. “The medium is the message”, argumenta Flusser, citando a famosa expressão de Marshall McLuhan. Seguindo esse raciocínio temos a substituição de uma estrutura discursiva, fundamentada na História da Arte e protagonizada pelo artista, o historiador, o crítico, etc., por uma estrutura “dialógica”, manipulada pelo curador ao estabelecer relações entre as obras, na qual o visitante teria a “palavra final”[1].

O artigo foi escrito para a revista Spuren mais de dez anos após uma tentativa de reorganização da Bienal de São Paulo encabeçada pelo próprio filósofo. Em consonância com mudanças ocorridas no âmbito das exposições de arte contemporânea, Flusser tentou, entre 1971 e 1973, converter a Bienal em “laboratório mundial no sentido da vinculação arte-público”[2]. “A arte, de natureza minoritária, passaria a participar mais intensa e intimamente da vida cotidiana, aproximando-se assim (auxiliada pela comunicação) do público”, aponta Flusser como objetivo da sua proposta de reformulação das bienais em “bases científicas” elaboradas pela Teoria da Comunicação.

Assim como no artigo de 1985, a ênfase da proposta inicial de Flusser estava na abertura estrutural da exposição: “se a Bienal continuar com estrutura fechada, terá sido perdida esta oportunidade de transformá-la em centro decisivo da vida artística, cultural e modeladora da atualidade”, sentencia o filósofo. Entre as metas das Bienais estaria, segundo a sua proposta, “fazer com que a arte volte a ser influência significativa na vida diária do homem moderno e proporcione motivação para suas atividades. Isto implicaria a modificação de sua atitude fundamental perante a arte: transformação do consumo contemplativo em produção criativa”[3]. Novamente, em uma perspectiva “diacrônica” ou “pós-histórica”, a reorganização estrutural da exposição resultaria na transformação da recepção pública da arte e na ativação do público.

De lá para cá, não somente as Bienais e as exposições de arte contemporânea, mas também os museus de arte passaram por consideráveis mudanças estruturais. A tradicional ordem cronológica de disposição das obras, juntamente com os critérios de seleção e os discursos historiográficos pautados na mesma linearidade, foram questionados das mais diversas formas, convertendo os espaços expositivos em laboratórios, plataformas, interfaces, locais de encontro e acontecimentos e uma infinidade de outras configurações manipuladas por curadores, nas quais o público foi convocado insistentemente à participação. No entanto, poderíamos questionar: se o público de fato passou a ocupar um papel de protagonista nas exposições de arte contemporânea, qual é o significado dessa mudança? Se a autoria passa a ser do curador/manipulador qual a autonomia do público nesse processo? Nesse novo contexto relacional o que significaria ter a “palavra final”?

Sem recair, por um lado, no apelo fácil à participação do espectador ou desconsiderar, por outro, as mudanças estruturais ocorridas nas exposições de arte nas últimas décadas, podemos tomar como ponto de partida a definição de Flusser da Exposição como Meio de ComunicAção. Fazendo uma pequena ressalva ao enunciado do filósofo, as exposições permitem um tipo de diálogo no qual não existe uma “palavra final”, mas, pelo contrario, geram processos de produção permanente de significados. Talvez não se possa falar em uma mensagem a ser transmitida ao público, uma vez que a quantidade de informação contida em megaexposições do tipo bienal (ou armazenada na rede mundial de computadores) não pode ser apreendida pelo receptor na sua totalidade.

Desse modo, entendida também como um meio, a presente edição realizada no âmbito do Projeto Contracondutas busca estabelecer relações entre imagens e textos que escapem à sintaxe do discurso verbal e à linearidade histórica e configure uma linguagem própria, a partir da superficialidade imagética. A edição do site configura-se, portanto, enquanto potência geradora de infinitas possibilidades de relações entre imagens e texto e de produção de sentido. Adotando esse princípio epistemológico, buscamos, no lugar de informar o público acerca das condições de trabalho no mundo atual e sua dimensão cultural, engajá-lo, através de um modelo em miniatura, em um processo dialógico que ocorrerá no Laboratório de Pesquisa e Práticas em História da Arte III do Curso de História da Arte da Universidade Federal de São Paulo.

 

Os trabalhos e debates realizados pelos alunos no Laboratório de Curadoria, durante o segundo semestre de 2016, serão articulados ao redor de referências teóricas e imagéticas que tratam do trauma cultural resultante da expropriação territorial, material e cultural e o extermínio dos povos sujeitos à escravidão e ao colonialismo. O site partirá do mesmo repertório e acompanhará a construção de um dispositivo expositivo itinerante no Campus Guarulhos, ampliando, através da rede mundial de computadores e da sua intertextualidade e interatividade específicas, o espaço de discussão entre a Universidade e a comunidade do entorno do Campus Pimentas. Trata-se, portanto, de conceber tanto a exposição quanto a edição como Meios de ComunicAção, apropriando-se de sua estrutura relacional para transformar produtivamente as atividades curatoriais, tendo em vista a ativação de seus públicos.

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