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10.04.2017

Polinizar a base – entrevista com o Beehive Design Collective

André Mesquita

O Beehive Design Collective [ou Coletivo de Desenho a Colméia, em português] é uma organização 100% voluntária e sem fins lucrativos formada em 2000 na cidade norte-americana de Machias, e que promove campanhas gráficas como ferramentas educacionais e de organização política para comunicar histórias de resistência à globalização corporativa. Os gráficos são usados pelo coletivo para explicar sistemas complexos que moldam o nosso mundo de hoje, descrevendo a história de uma maneira diferente da qual estamos acostumados a ouvir somente pelos canais hegemônicos de poder e ilustrando exemplos concretos sobre como as políticas econômicas se manifestam no mundo. Mesoamérica Resiste é o último projeto de uma trilogia sobre globalização nas Américas, iniciado em 2001 com um gráfico sobre a Área de Livre Comércio das Américas e depois sobre o Plano Colômbia no ano seguinte.

Beehive Design Collective. Mesoamérica Resiste.Clique aqui para navegar pela imagem [http://beehivecollective.org/posterViewer/?poster=mr]

Para a realização de Mesoamérica Resiste, os ativistas voluntários (ou bees) do Beehive Collective trabalharam durante nove anos criando ilustrações e fazendo pesquisas e entrevistas com comunidades durante viagens ao México, Colômbia e Panamá para levantar os impactos sociais e econômicos promovidos pelo chamado “Projeto Mesoamérica” (conhecido anteriormente pelo nome de “Plan Puebla Panama”, anunciado em 2001). O plano prevê a integração de parte da região Sul do México a países da America Central, Colômbia e República Dominicana para a abertura de investimentos privados estrangeiros nessas regiões. Esses investimentos incluem, por exemplo, o monopólio de recursos naturais como petróleo, a construção de rodovias, barragens e redes de energia para a abertura de canais de exportação e a criação de fábricas maquiladoras servindo a grandes corporações conhecidas pelas situações de trabalho semi-escravo, pelo pagamento de baixos salários, por empregar crianças e mulheres grávidas e pela destruição do meio-ambiente.

Beehive Design Collective. Mesoamérica Resiste.

A campanha de Mesoamérica Resiste é um esforço coletivo de discussão tanto sobre as situações de devastação de comunidades e economias locais afetadas negativamente pelo plano de integração neoliberal – mostradas no pôster através da imagem de um mapa colonial de um conquistador espanhol retratando uma visão de mundo vista do alto –, como as formas de solidariedade e resistência visualizadas na imagem maior do gráfico. Esses pôsteres são ferramentas colaborativas e anticopyright para a promoção de conscientização, ação estratégica e construção de movimentos sociais, visando aumentar os laços de solidariedade em encontros de educação popular promovidos pelos bees junto às populações e grupos afetados.

Entrevista realizada por e-mail por André Mesquita com um integrante do Beehive Collective em maio de 2011.

As imagens dos pôsteres que vocês realizam têm sido descritas como “mapas”. Até que ponto as campanhas gráficas do Beehive Collective permitem a elaboração pedagógica de uma prática social e educativa?

Nossas campanhas gráficas têm sido descritas como mapas no sentido de que nós estamos tentando desconstruir e retratar visualmente alguns sistemas complexos que moldam o nosso mundo de hoje. Fazemos isso com imagens porque muitas análises sobre globalização estão amarradas por uma forte linguagem acadêmica, que é difícil para as pessoas que não estudaram economia nas universidades entender. É totalmente inacessível e era o que pensávamos quando começamos a fazer os gráficos sobre os temas de livre comércio no início dos anos 2000. Desenhos [cartuns, quadrinhos] são as ferramentas que usamos para quebrar com as noções esmagadoras e abstratas de “barreiras ao comércio” e “política econômica neoliberal” através de pedaços digeríveis, os quais pudéssemos entender no contexto das nossas vidas diárias. Ao usar metáforas visuais para ilustrar exemplos concretos dessas políticas e sobre como elas se manifestam no mundo, e através do desenho literal das conexões entre esses exemplos em um pedaço de papel (desenhando a “grande imagem” do todo, como dizemos), fomos capazes de criar uma ferramenta de análise baseada em sistemas que poderiam ser específicos e gerais no escopo.
No início, nosso único objetivo foi o de criar esta ferramenta com a esperança de que as pessoas pudessem entender melhor esses sistemas e usá-la como um meio de diálogo para ajudar a espalhar conhecimento. As pessoas responderam a isso com receptividade e uma energia incrível, impulsionando-nos a fazer mais gráficos sobre outras questões. De muitas maneiras, a educação é ainda o nosso principal objetivo, mas temos que aprofundar nossa metodologia e produção de imagens na confiança de que elas promovam não apenas diálogo e conscientização, mas também ação. Muitos de nós não pensam de forma linear. Ter a chance de ver as questões políticas, sociais e ambientais colocadas de maneira mais fluída, onde as conexões estão claramente desenhadas, mas também porque são imagens e cenas abertas à interpretação, permitem as pessoas interagirem com a história de uma maneira nova.
Neste sentido, temos procurado entender como o “mapeamento de sistemas” através de uma narrativa de quadrinhos descrevendo histórias pode ser compreendido como uma forma de cartografia de representação/metáfora visual do nosso mundo da maneira como nós o enxergamos. O modo como vemos as pessoas reagindo a esses mapas de experiência nos tem mostrado frequentemente como isso pode ser uma “ferramenta tática”, no sentido de levar o sistema para a luz de suas próprias vidas, identificando pontos específicos das intervenções, inspirando as pessoas a fazer algo sobre isso, permitindo interpretações individuais e tomadas de decisão.

De que modo essas imagens podem confrontar o poder dos mapas de domínio e controle criados por governos, exércitos ecorporações?

Nossos gráficos esforçam-se para contar uma história diferente daquela que estamos costumamos a ouvir nas notícias sobre os acontecimentos em nosso mundo. Quando começamos a fazer gráficos, percebemos que teríamos que fazer mais do que apenas ler artigos ou falar com “especialistas”. A informação que começaria a partir dessas fontes seria a mesma velha história que ouvimos todos os dias – a narrativa poderosa dita por quem está no poder. Esta narrativa é projetada para manter esses sistemas de poder no lugar. Governos, exércitos, corporações, todos eles têm departamentos de propaganda extremamente eficazes que produzem mapas, documentos e notícias para formar a imaginação do povo. Especialmente nos mapeamentos. Você pode ver isso manifestado nos mapas coloniais do império. Geralmente usamos as imagens de mapas coloniais no nosso trabalho para descrever as noticias ruins, porque eles retratam uma visão do mundo vista do alto. E estão baseados em fronteiras e linhas arbitrárias que visam promover conhecimento e poder sobre um lugar.
Sabíamos que seria necessário quebrar com as narrativas dominantes se realmente quiséssemos entender como essas questões da globalização, do militarismo e do “desenvolvimento” econômico produzem impactos no mundo e na vida das pessoas. Teríamos que nos conectar a uma narrativa mais profunda, mais forte e mais convincente do que aquela dos detentores do poder… Para atingir esse objetivo, decidimos ir ao lugar exato onde os problemas estavam ocorrendo, falar diretamente com as pessoas que estavam sendo afetadas por esses problemas e ver o ambiente em que isso se desenrolava. Encontramos histórias que não eram ditas nos noticiários… as histórias dos oprimidos e silenciados, sejam as histórias de grupos étnicos, dos povos indígenas, das pessoas pobres ou as histórias dos sapos dourados e de outras espécies ameaçadas. Ao fazer isso, pudemos descobrir uma narrativa mais profunda e então desenhar uma imagem que fosse muito diferente daquela dos detentores do poder, vendo a partir da perspectiva das pessoas e do ecossistema o que este poder está destruindo.

Beehive Design Collective. Free Trade Area of the Americas. Clique aqui para mais informações sobre o pôster [http://beehivecollective.org/beehive_poster/free-trade-of-the-americas/]

Nossos gráficos confrontam o poder dos mapas oficiais ao contar histórias de pessoas e criaturas desconhecidas, dando a elas uma profundidade e complexidade que merecem sem usar bordões e estereótipos. Essas são histórias de tragédia e destruição deixadas de fora danarrativa normativa (ou então contadas de forma depreciativa, desconectada ou minimizada). Estas são também histórias de resistência e regeneração. Contamos essas histórias dentro de uma análise baseada em sistemas que é criada através de compilações das mesmas histórias. Ao fazer isso, somos capazes de retratar as informações compartilhadas com nós de uma maneira nova. Muitas vezes, as pessoas que compartilham suas histórias com nós dizem mais tarde, depois de ver um desenho completo, como elas ganharam uma compreensão mais profunda de sua experiência ao vê-las retratadas dentro de uma grande narrativa. A imagem que usamos para transmitir esta narrativa alternativa tenta ser o oposto do paradigma do “mapa colonial”. Tentamos desenhá-la de uma perspectiva “de baixo para cima” para mostrar que essas são as histórias de base. Assim, acabamos com as fronteiras políticas e nos empenhamos para mostrar o mundo natural fora da noção de propriedade e de Estado-Nação.
A outra razão pela qual nossos gráficos se diferenciam dos mapas oficiaisé que também nos esforçamos para contar histórias de esperança, de boas notícias diante de tanta notícia ruim. Mas, não é simplesmente contando histórias de esperança que fazemos as pessoas se sentirem bem. Isso tem sido uma parte de nossa metodologia que temos trabalhado duro para melhorar – contar histórias de resistência e resiliência do mesmo modo complexo que usamos para derrubar os sistemas de destruição e opressão. Para que não sejam apenas anedotas, mas histórias que se dirijam às nossas almas e que se juntem para nos inspirar e nos empoderar para enfrentar aqueles que estão no poder, trabalhando para construir um futuro diferente. Para nos dar o poder de imaginar um outro mundo e refazer completamente os seus mapas.

Beehive Design Collective: http://www.beehivecollective.org

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