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18.07.2017

Novos sentidos do trabalho entre o campo e a periferia urbana (1): entrevista com Seumas MacInnon e Tam McGarvie, da Galgael, Escócia*.

Brian Garvey, Juan Toro

Seumas MacInnon: Meu avô costumava começar suas manhãs em sua bicicleta, ele pedalava por 60 milhas (100 km). Ele vivia em uma choupana durante toda a semana e retornava aos sábados para ver sua família. Então, ele partia aos domingos à noite para ir ao trabalho. Já o pessoal da minha esposa, eles costumavam acordar às 4 horas da manhã e andar seis milhas (10 km) até a entrada da mina, fazer o turno do dia e andar as seis milhas de volta. O que eu estou dizendo é que, como em outros trabalhos agrícolas aqui ou no Brasil, é algo universal, os patrões têm explorado os trabalhadores. Eles vão à um “novo” país e o colonizam. Você vê quase o mesmo padrão. E a ganância dos homens não conhece limites. De forma que o emprego dos trabalhadores assalariados vem através dos auspícios do contratante que age como: “vou lhe dar uma miséria”.

Ambos Colin (MacLeod, membro fundador da organização) e eu, trabalhávamos quando jovens para a prefeitura, mas o fato é que a gente sentia que a gente estava… eu acho que sentíamos que o trabalho não fazia sentido. Você mencionou a palavra “sentido”, mas sentido vem de uma crença. O fato sobre Galgael é que se você acredita no que você está fazendo. Toda sua percepção muda de alguma forma porque você acredita em algo. O incentivo não é o dinheiro, não é em ganhos. É algo diferente. É algo sincero. Você é quase coração e alma. Você está colocando seu coração e alma nesse projeto. E foi isso o que começou Galgael. O sentido não é sobre todos se tornarem individualmente ricos, mas se tornarem enriquecidos pelas percepções comunitárias e culturais. Você sente que é como acreditar novamente.

Tam McGarvie: Vale a pena mencionar as raízes de Galgael. Colin foi visitar a Lokota Sioux na Reserva de Rosebud, Pine ridge (povo autóctone da América do Norte). Ele viu que se tratava de uma comunidade partida e horrivelmente maltratada. Mas eles estavam tentando recuperar suas tradições e costumes para afastar os jovens do alcoolismo. E ele pensou que isso poderia funcionar também na Escócia. Ele retornou com essas ideias na sua cabeça e aqui estava acontecendo um protesto contra uma estrada que estava sendo construída em terras públicas (…). Com isso acontecendo, nós passávamos por tudo isso construindo cabanas, fazendo comida…. Então, nós estávamos conversando em torno de uma fogueira, exatamente como estamos agora, quando decidimos nos concentrar no que éramos e não mais nos concentrarmos no que estávamos contra.

Há esse grande, massivo, mito na mídia sobre pessoas desempregadas: elas estão desempregados por três gerações porque elas não estão interessadas em trabalho e são preguiçosas. Mas nós temos pessoas vindo aqui para trabalhar, os quais vem talvez convivendo com o desemprego por três gerações em suas famílias, mas eles adoram trabalhar. Assim que você oferece para eles o contexto certo, as atitudes deles em relação ao trabalho mudam. Eles estão aqui todos os dias trabalhando pesado e sem ganhar nada. Sem dinheiro.

SM: Há um pessoal que trabalha em indústrias ou em escritórios digitando o dia todo. Eu entendo que todos têm que pagar as contas. Mas isso está destruindo a alma. Trabalho significa algo quando você está realmente envolvido com esse algo, sendo parte de alguma coisa. É quase inexplicável. Isso é o que Gael tem sido para eles em relação ao trabalho. Arregaçar as mangas e seguir com isso. É algo difícil de explicar, mas o pessoal sente isso. E isso é realmente o que é uma comunidade, quando as pessoas se juntam em torno de um objetivo comum.

BG: Você usa o barco como uma metáfora… Então, o barco que estamos construindo oferece uma excelente analogia. Construir um barco é um projeto que possui muitas camadas. O pessoal vem, pega as árvores, traz toda a madeira, você vaporiza as folhas de madeira [sistema de aquecimento para que a madeira assuma a curvatura da estrutura do barco], você constrói o barco, você tira o barco daqui e você navega. E isso te leva a outro reino. De certa forma, ele leva você para sua natureza, seu ambiente cultural. Mas isso não é nada diferente de como as pessoas na Escócia rural costumavam a viver. Nós apenas nunca classificamos isso. Nós nunca vimos isso dessa forma. Era apenas a vida.

TM: Eu creio que nós fizemos muitas dessas coisas como parte de uma comunidade rural perto do oceano, a qual estava trabalhando e sobrevivendo. Eu não sei quando começou. Talvez com Thatcher (Primeira-Ministra no Reino Unido de 1979 a 1990), talvez antes disso. Foi quando as comunidades começaram a ser minadas e perderem acesso aos serviços sociais. Eles dizem que foi por razões econômicas, mas eu não sei. Para mim, foi um ataque ideológico. Eles nos olhavam como algo atrasado. Não cabiam mais naquela visão de progresso. Uma grande visão de progresso que para se conquistar o planeta deve-se destruir a sociedade.

Isso é visto como herético para a escória do sistema econômico, mas todos nós sabemos que ao longo dos séculos existe uma massiva onda de genocídios quando você não tem coesão entre as pessoas da classe trabalhadora, quando você não está fazendo uma oposição e conseguindo um equilíbrio.

Eu não estou dizendo que eu não gosto do capitalismo, mas tem que existir melhores formas econômicas de governarmos a nós mesmos. Nós somos usados como peões na maior parte do tempo. Então, o trabalho que fazemos em Galgael parece ser cada vez mais válido. Estamos reclamando o que é nosso.

SM: Não é nada novo. Se você pensar em comunidades de campesinos ou de agricultores, existem muitos vizinhos que saiam juntos para se ajudar com os rebanhos de ovelhas ou gado, para construir uma casa ou cobri-las com palha. Toda comunidade se unia, de forma que muitas pessoas criavam relações sociais em muitos níveis (…). Então você tem que pensar, por que a construção do barco foi banida? Por que a língua foi banida? Por que as tradições foram banidas? A coroa (referência a monarquia real britânica) não gostou disso.

Nas Highlands (região da Escócia), em Galloway e nas fronteiras, tinha muita gente vivendo lá. A Escócia tinha o maior crescimento da população urbano na Europa desde 1759 e 1800, já que muita gente foi empurrada para o “cinturão/região central”. O que chamamos de “reserva central”. Então, as pessoas tinham de encontrar trabalho em qualquer lugar, porque suas terras foram tomadas. Isso aconteceu aqui, isso aconteceu no Brasil. Existia um tecido social que era forte, a cultura era forte. É nisso que a humanidade está perdendo seu caminho. Está perdendo, perdendo a integridade cultural porque a orientação está no ganho monetário individual.

TM: Nós temos pessoas vindo aqui que realmente tem sofrido em termo de identidade, que não sabem quem elas realmente são. E porque a sociedade relaciona a identidade deles ao sistema econômico, no qual eles tem fracassado, eles se consideram fracassados. Assim, quando eles são vistos como pessoas que não podem ganhar dinheiro, que não podem se sustentar e precisam de benefícios sociais, é reduzida a autoconfiança e o sentido de quem eles são.

Quando eles estão aqui, eles se sentem como parte de alto com muito mais sentido e tem uma identidade. Eles têm orgulho. As pessoas estão se sintonizando ao que estamos fazendo, embora não temos certeza na metade do tempo o que é que estamos fazendo. Mas nossa história é agora a história deles, eles ja navegaram um barco.

* Versão reduzida da entrevista conduzida com Seumas MacInnon (SM) e Tam McGarvie (TM) da Galgael. Por mais de 20 anos, Galgael tem construído uma reputação como uma organização sem fins lucrativos que trabalha coletivamente e criativamente em uns dos bairros mais desfavorecidos de Glasgow na Escócia. Seu trabalho busca envolver a comunidade em ofícios tradicionais locais, como a construção e restauração de barcos e, ao fazer isso, visa refazer a ligação entre o patrimônio rural e a existência da cidade.

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