lançamento
Por trás do Tapume
reportagens:
Sabrina Duran
ensaio fotográfico:
Renata Ursaia
“Por trás do tapume: fatos e reflexões sobre o trabalho dos operários no canteiro de obras”, primeira sugestão de nome para esta publicação que agora prefaciamos, talvez oferecesse uma ideia geral do que pode ser lido nesta série de reportagens de Sabrina Duran, mas, certamente, não comunicaria a postura investigativa que o distingue de um artigo que escolhe tomar distância segura de seu objeto. Outra opção: “Por dentro do canteiro: fatos e reflexões sobre o trabalho dos operários da construção civil”, apenas alterava os termos sem abrir mão do formato da versão anterior, no mesmo tom generalista. Ficariam de fora as palavras que o processo investigativo das reportagens nos faz descobrir e reconhecer, como se pudessem ser escondidas novamente: violência, opressão, exploração.
Inúmeros títulos poderiam ser extraídos metonimicamente desta série de reportagens: “das estruturas da produção capitalista que atravessam o canteiro”, “dos nexos entre escravidão colonial e escravidão contemporânea”, “do papel dos arquitetos na redução ou aumento da violência no canteiro de obras”, “das relações entre precarização do trabalho e aumento dos lucros na produção da cidade-empresa neoliberal”, ou ainda, “da normalização discursiva e legal da exploração dos corpos no canteiro”. Difícil nomear esta narrativa quando se leva em conta a complexidade do enredo.
Desde seu início, o projeto Contracondutas, que pretende ser interdisciplinar, já entendia enquanto estratégia de diálogo com o público mais amplo a escrita jornalística como meio de socialização dos estudos e publicização do tema – entendendo que ao jornalismo também se atribui estas funções. No entanto, o propósito das encomendas a jornalistas independentes é ainda mais pretensioso, pois, além de produzir reportagens extensas, embasadas bibliograficamente e que implicam diversas questões sobre o trabalho, visa também dialogar, e, em alguma medida, fortalecer as iniciativas de jornalismo independentes ocupadas com o direito à informação, qualificação do debate e a promoção dos direitos humanos.
O desafio, estabelecido abertamente como objetivo da série, era colocar em discussão o tema do trabalho análogo a escravo hoje na construção civil, tornando acessíveis reflexões pertinentes quanto à questão do trabalho, dirigindo-se a públicos de diversas formações e trajetórias, certamente implicados nestas questões, por conta de sua atuação profissional. Questões que parecem ser apagadas continuamente do plano de discussões mais amplo.
Não havia, no entanto, a expectativa de que um trabalho jornalístico se mostrasse capaz de costurar de forma competente também o processo e as realizações do próprio Projeto Contracondutas, que se desenvolveu de modo rizomático a partir do caso de exploração de trabalho no Aeroporto de Guarulhos. Um desafio que, nem bem posto à Sabrina Duran, foi tomado como ferramenta de pesquisa, e hoje possibilita um panorama dos modos pelos quais esse projeto tem organizado as questões, problemas e dados ligados ao Trabalho escravo e seus desdobramentos. Mais do que um título descritivo poderia conter.
Gilberto Mariotti e Joana Barossi
Horário
das 19 às 21:30
19:30 conversa com a autora
Local
Tapera Taperá
Galeria Metrópole
Av. São Luis, 187
Loja 29, 2° andar