O professor Alencastro, que utiliza o site em seus cursos, nos conta que essa base de dados se origina na elaboração de um Censo do Comércio Atlântico de Escravos1, feito pelo historiador Philip D. Curtin, publicado em 1968, no qual ele apresentou um balanço dos números disponíveis relativos ao tráfico de escravos. Na década de 1980, quando os EUA ofereciam farta verba para se pesquisar história afro-americana, historiadores e pesquisadores retomaram a pesquisa de Curtin e se dispuseram a sistematizar uma base de dados única, mais completa, sobre os itinerários do tráfico de escravos. Hoje a plataforma reúne dados oriundos de diversos países e centros de pesquisa e, por questões legais de manuseio dessa informações, a informações compilada se tornou pública.
Base de dados do Comércio Transatlântico de Escravos
Para Luiz Felipe de Alencastro, o agrupamento dos dados numa plataforma única foi fundamental para verificar e ordenar a informação disponível, gerar debates e desfazer mal-entendidos entre historiadores, pesquisadores e desvelar interesses2 conflitantes na construção de narrativas históricas.
Por se tratar de uma comercialização, existem numerosos registros do transporte forçado das populações de escravos e por isso se faz possível um cálculo muito aproximado do número de pessoas que cruzaram o Atlântico – seja pelos impostos pagos no embarque, seja pela documentação dos navios ou pelo registro da chegada. Hoje sabemos quase exatamente quantos africanos chegaram no Brasil3 ao passo que sabemos apenas aproximadamente quantos europeus4 vieram e jamais saberemos quantos índios havia.
Rota Atlântica
O tráfico transatlântico de escravos foi o maior movimentação forçada, de longa distância, de pessoas na história e, antes de meados do século XIX, formou a principal fonte demográfica para o repovoamento das Américas após o colapso das populações ameríndias.
A partir do final do século XV, o Oceano Atlântico, que antes configurava uma barreira que impedia a interação regular entre os quatro continentes, pela primeira vez tornou-se uma rodovia comercial que integrou as histórias da África, Europa e Américas. Em 1820, para cada europeu, quatro africanos cruzavam o Atlântico.
A escravidão e o comércio de escravos foram determinantes desse processo. Com o declínio das populações ameríndias, a mão-de-obra africana formou a base da exploração do ouro e dos recursos agrícolas dos setores exportadores das Américas. Durante vários séculos, os escravos foram a principal motivação comercial entre europeus e africanos.
Notas de Rodapé
- The Atlantic Slave Trade: A Census
- Quando os dados todos foram reunidos, constatou-se que havia conflitos de interesses e alterações dos números. Os abolicionista ingleses e as elites africanas, por exemplo, inflacionavam os números para alarmar suas perspectivas.
- por volta de 12 milhões.
- Alencastro calcula que foram 750 mil portugueses entre 1550 e 1850 e mais 4 milhões de outros lugares.