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31.05.2017

Escravidão transatlântica e contemporânea: a cultura como forma de enfrentamento do trabalho. | Richard Benjamim e Marcio Farias

Vitor Pissaia

Palestrantes: Richard Benjamin e Marcio Farias.
Debatedor: Raul Araujo

No intercâmbio entre o InternationalSlaveryMuseum e o Museu Afro Brasil emergem duas figuras:Kevin Hyland, o Independent Anti SlaveryCommissioner do governo britânico; e Emanoel Araujo, curador e diretor do MuseuAfroBrasil.

O primeiro,descrito como uma espécie de James Bond Social Justice Warrior, tem permissão da rainha para visitar qualquer instituição que estabeleça vínculos econômicos com o Reino Unido, para averiguar se a mão de obra empregada na cadeia produtiva possui boas condições de trabalho. O outro,natural de Santo Amaro da Purificação, vem para São Paulo com a benção de Caribé e Jorge Amado, pelos caminhos tortuosos da busca de uma conexão entre Brasil e África, nítida ao ponto de dividir o oceano atlântico em dois.Eles não são os palestrantes, mas são as personalidades a que Richard Benjamin e Marcio Farias recorrem, respectivamente, e que, de certa maneira, definem o caráter com que as instituições representadas nesse adensamento crítico se apresentam.

Situado em Liverpool, o International Slavery Museum abrange os grandes temas da escravidão no mundo, como num grande sobrevôo sobre o território, decompondo as megaestruturas em partes possíveis de serem apreendidas. Ainda que a Inglaterra tenha sido participante ativa no comércio atlântico de escravos, os resultados materiais dessas ações se encontram em outros territórios. Repete-se aqui as próprias dimensões do império onde o sol não se põe, com o estudo das reverberações que essa atuação produziu. A abordagem apresentada por Marcio Farias parte já parte de fenômenos localizados e que pela somatória dessas experiências se reestabelece uma narrativa maior. Basta ver como sua apresentação vai pinçando personagens negros na história brasileira e ajustando a perspectiva para os pontos antes nebulosos da versão oficial. Como quem voltando pela trilha até então percorrida, encontra outros caminhos menos batidos, clareiras na mata fechada, e quando chega ao ponto de partida, descobre que ele já não é mais o mesmo.

Afinal, são as ideias que movem o mundo, ou o mundo que move as ideias? Na linha entre essas perguntas está o debate proposto nesse adensamento crítico, sobre uma forma ativa do posicionamento dos museus frente ao mundo. Não mais um espaço de acúmulo dos signos da história, mas de reformulação e de resignificação desses elementos.

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