O significado final de qualquer sequência depende da relação espaço/evento/movimento – com esta citação, inserida da obra Architecture and Disjunction, Bernard Tschumi reafirma que entender espaços passa pelo estudo de suas ações, usos e movimentos realizados dentro dele. A ideia de que movimentos cotidianos são determinantes para configurar os espaços urbanos foi complementada, neste trabalho, pelos experimentos cênicos de Trisha Brown que no final dos anos 1970 ocupou as caóticas ruas de Nova Iorque com suas performances. A ideia de entender a dança como uma forma de extrapolar as barreiras da arquitetura – entendendo o corpo como seu elemento central – é a indagação inicial do projeto Notações de uma Coreografia Urbana. Baseado no Campo Limpo, bairro periférico de São Paulo, Notações explorou a espacialidade de área, onde as escadas não só servem como locomoção mas também como locais de encontro, lugares de estar.
Partindo de um estudo dos movimentos cotidianos dados naquele local pelos transeuntes, foi escolhida uma dessas escadas como lugar de apropriação e reinterpretação. O partido do projeto foi construir a continuação do corrimão existente, que pouco se assemelha com um corrimão convencional: seus módulos variam de altura, criando duas linhas em descompasso que quebram a lógica do corrimão em corte e em planta. Três dos módulos projetados foram instalados no local e um jovem grupo de dança do Campo Limpo, envolvido no projeto desde o início foi convidado para conduzir uma performance no novo objeto, desconstruindo o movimento usual e sugerindo novos.
Estetizar por meio da dança nossas ações de todo dia foi uma tentativa de expandir e repensar o conjunto de movimentos já codificados daquele lugar. Os resultados observados, expressos nos desenhos, fotos e vídeo a seguir nos revelou que simples gestos – tais como subir ou descer uma escada – é suficiente para questionarmos a quantidade de possibilidades diferentes de ações e usos que cada lugar – dos mais ordinários aos menos – na cidade pode ter.